Ao longo dos anos, a Disney vem testando os limites da nostalgia com suas versões live-action de clássicos animados. Algumas produções se perdem em uma tentativa de replicar quadro a quadro o que já era mágico na animação. Outras, porém, entendem que adaptar também é reimaginar e é exatamente isso que torna Lilo & Stitch (live-action) uma das melhores adaptações da Disney até agora.
Sim, há fidelidade visual e narrativa à animação de 2002. Stitch continua sendo o caótico e adorável experimento 626 e Lilo mantém sua essência rebelde, estranha e encantadora. Mas o grande acerto aqui é não se limitar a copiar. O live-action traz novos elementos que enriquecem a história e aprofundam as relações, conferindo à trama camadas que antes só estavam sugeridas.
Na animação, Nani já era uma personagem comovente por ser uma jovem que, após a morte dos pais, assume sozinha a responsabilidade em criar a irmã pequena. No entanto, o live-action expande essa figura fazendo com que Nani deixe de ser apenas a cuidadora para se tornar uma mulher complexa, com desejos, sonhos e dores. Sua trajetória ganha força ao ser inserida em uma rede comunitária: vizinhos, amigos e laços de afeto que mostram que, embora sua vida seja difícil, ela não está sozinha no mundo.
Mesmo com uma cena final forçada ao lado de Stitch, que exige certa suspensão de descrença, o arco de Nani é infinitamente mais elaborado e emocionalmente potente do que na animação. Ela é, enfim, reconhecida como parte essencial da história e não só como uma mera coadjuvante.
Escolher uma atriz para viver Lilo não era tarefa fácil, afinal, a personagem exige uma combinação rara de vulnerabilidade, intensidade e esquisitice. Mas Maia Kealoha entrega tudo isso com naturalidade, como se tivesse nascido para o papel. Sua interpretação convence, emociona e honra a essência da personagem.
Stitch, por sua vez, não é apenas um boneco de CGI fofo. Ele mantém o visual clássico, sim, mas ganha aqui um arco narrativo verdadeiro. Sua jornada é construída com intenção, emoção e até certa literalidade se tornando uma verdadeira jornada do herói. O live-action aposta em um Stitch que sente, aprende e escolhe, um personagem com alma e evolução real, indo ainda mais além das escolhas da animação.
As alterações em relação à animação original são bem-vindas e nunca gratuitas. São decisões criativas que trazem frescor sem trair a história. Tudo é feito com o claro propósito de aprimorar o que já era bonito: o conceito de família como escolha, o luto infantil, a solidão, a aceitação do diferente e a força dos laços afetivos.
É claro que, como tantos outros remakes, o filme também se apoia na nostalgia dos millennials que cresceram vendo Lilo encenando seus dramas com bonecos e alimentando peixes no mar. Mas diferente de outras adaptações oportunistas, aqui há profundidade, autenticidade e um cuidado real com os personagens.
Lilo & Stitch (Live-action) é um acerto raro entre os remakes da Disney. Não por ser uma cópia fiel, mas por ser uma obra que honra o espírito original enquanto acrescenta camadas emocionais que faltavam na versão animada.
É um filme que vai divertir as crianças com sua energia e carisma, mas que vai emocionar profundamente os adultos com sua sensibilidade, suas dores silenciosas e sua forma delicada de falar sobre pertencimento e amor.
Prepare-se para sair da sala com o coração aquecido e, quem sabe, até arriscando uns passos de hula ao som de He Mele No Lilo ou Hawaiian Roller Coaster Ride.
Nota: 8/10