Crítica | Better Man - A História de Robbie Williams
A melhor cinebiografia musical dos últimos anos!
Cinebiografias de músicos geralmente seguem um formato previsível: ascensão meteórica, queda brutal e redenção inspiradora. Better Man, dirigido por Michael Gracey (O Rei do Show), não foge totalmente desse molde, mas o faz com tamanha originalidade, emoção e impacto visual que eleva o gênero a um novo patamar. O longa, que estreou no Festival de Toronto 2024, narra a trajetória de Robbie Williams, um dos artistas britânicos mais vendidos de todos os tempos, e se destaca por sua abordagem criativa e sincera sobre os altos e baixos da fama.
Desde os primeiros minutos, Better Man se diferencia ao mergulhar profundamente na psique de Robbie Williams, explorando suas inseguranças, dilemas existenciais e conflitos internos sem maquiar seus erros. O roteiro aborda sua relação conturbada com o pai, o abandono paterno e a constante busca por atenção e validação, temas que moldam sua personalidade e, consequentemente, sua carreira. Williams é retratado como um artista genial, mas fragilizado por uma infância marcada por carências afetivas, algo que o leva a lutar constantemente contra seus próprios demônios.
O filme não hesita em mostrar as consequências disso em sua saúde mental, incluindo seus vícios, ansiedade, depressão e momentos de autossabotagem. Essas camadas emocionais tornam Better Man mais do que um retrato de um astro da música, mas uma análise profunda sobre o peso da fama e o impacto psicológico da indústria do entretenimento.
Sendo um filme musical, era essencial que os números musicais fossem impactantes e Better Man entrega isso com maestria. A reinvenção visual de Rock DJ é um espetáculo absoluto, combinando coreografia grandiosa, efeitos especiais impressionantes e simbolismo visual poderoso. Cada número musical é um reflexo do estado mental de Williams no momento, tornando-se uma peça narrativa essencial ao invés de uma mera exibição artística.
O diretor, já experiente com musicais estilizados como em O Rei do Show, utiliza simbolismos e metáforas para representar a jornada emocional do protagonista, como a escolha de um macaco para simbolizar a forma como Williams se via: uma caricatura de si mesmo, criada para entreter os outros, mas sem um real senso de identidade. O longa não se limita apenas a replicar apresentações icônicas, mas reinventa suas músicas, tornando-as parte integrante da narrativa e reforçando o impacto emocional de cada fase da vida do cantor.
A cinematografia de Better Man é simplesmente impecável. A iluminação e o design de produção criam uma atmosfera que oscila entre o glamour da fama e a melancolia da solidão, destacando os altos e baixos da vida do cantor. As cenas que mostram o impacto do estrelato na vida de Williams são acompanhadas por um trabalho de câmera dinâmico e imersivo, transportando o espectador para os bastidores da indústria musical e expondo a vulnerabilidade do artista.
O ponto mais baixo emocional do filme, envolvendo sua avó, é conduzido com uma sensibilidade rara, evidenciando a fragilidade de Robbie sem recorrer a sentimentalismo barato. A sequência que mostra sua passagem pela reabilitação é particularmente impactante, ilustrando sua luta interna contra a autodestruição e sua tentativa de reconstruir uma identidade fora dos holofotes. São nesses momentos que Better Man se solidifica como uma das melhores cinebiografias já feitas, equilibrando espetáculo e emoção de maneira magistral.
Com tamanha excelência em diversos aspectos, desde a construção narrativa até a direção artística e efeitos visuais, é inacreditável que Better Man tenha sido lembrado apenas na categoria de Melhores Efeitos Visuais no Oscar 2025. A decisão da Academia de ignorar a obra em categorias como Melhor Ator, Direção, Fotografia e até mesmo em Melhor Filme apenas reforça sua recorrente resistência a filmes que ousam inovar dentro de gêneros tradicionais.
O filme não apenas conta a história de um artista icônico, mas também levanta questionamentos universais sobre identidade, vulnerabilidade e o verdadeiro custo da fama. Seja você fã ou não de Robbie Williams, Better Man é uma experiência cinematográfica imperdível, uma obra que não apenas narra uma trajetória, mas a transforma em um espetáculo visual e emocional inesquecível. Como o próprio título sugere, Robbie Williams continua sua busca para ser um “homem melhor” e o filme é a prova de que, ao menos no cinema, ele já alcançou a grandeza.
Nota: 10/10